Nos últimos dias, declarações polêmicas e movimentações estratégicas voltaram a acender alertas sobre o risco crescente de um conflito armado de proporções globais.
Áudios vazados revelaram que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ter ameaçado os presidentes da Rússia e da China durante conversas telefônicas. Segundo Trump, ele teria advertido Vladimir Putin sobre um possível bombardeio a Moscou e surpreendido Xi Jinping ao mencionar um ataque direto a Pequim.
Enquanto isso, a revista Foreign Affairs, vinculada ao influente Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos, publicou um artigo discutindo abertamente uma possível estratégia geopolítica que poderia conduzir o mundo à eclosão de uma nova guerra mundial. O texto descreve uma divisão tática das frentes de combate. A Europa atuaria contra a Rússia, os países signatários dos Acordos de Abraão combateriam o Irã e os Estados Unidos teriam como foco a contenção da China.
Essas articulações ocorrem ao mesmo tempo em que Israel intensifica sua campanha militar em Gaza, duramente criticada por especialistas internacionais por configurar um possível genocídio. Em um gesto controverso, autoridades israelenses chegaram a propor a candidatura de Trump ao Prêmio Nobel da Paz.
Recentemente, o presidente da Alemanha declarou que um confronto direto com a Rússia seria inevitável. Paralelamente, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fez uma ameaça velada à China, aprofundando o tom agressivo da diplomacia europeia.
Economistas alertam que o nível atual de endividamento nos Estados Unidos e na União Europeia atingiu patamares insustentáveis. Para alguns analistas, uma guerra global permitiria a emissão de moeda em escala sem precedentes, levando à hiperinflação e reduzindo o peso real das dívidas no Ocidente.
O atual secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, afirmou que a terceira guerra mundial poderá ter início com um ataque da Rússia à Europa e da China a Taiwan. O que se evita mencionar, porém, é que tanto a Rússia quanto a China vêm sendo pressionadas de forma sistemática. A instalação de sistemas ofensivos em Taiwan, exercícios militares junto às fronteiras russas e a aplicação de sanções econômicas severas criam um ambiente de tensão extrema. Ao reagirem, essas potências são rapidamente classificadas como "agressoras", criando uma narrativa que legitima a escalada bélica.
A guerra na Ucrânia é exemplo dessa manipulação narrativa. Embora a invasão russa seja amplamente condenada, pouco se discute sobre o golpe de Estado ocorrido em 2014, que resultou na ascensão de um regime ultranacionalista em Kiev. Nos anos seguintes, esse governo marginalizou a população russófona por meio de leis discriminatórias, bombardeios e episódios de violência extrema, como o incêndio no prédio do sindicato em Odessa.
Enquanto os sinais de conflito se multiplicam, há pouca mobilização social real contra a escalada militar. Boa parte da esquerda ocidental analisa os eventos de forma fragmentada, desconsiderando o contexto global e ignorando a principal contradição em jogo. Essa postura, na prática, favorece a expansão da máquina de guerra imperialista.
É urgente construir uma resistência organizada. A defesa da paz exige uma oposição firme à militarização da Europa, à continuidade das operações da OTAN e ao papel ativo que potências ocidentais têm desempenhado nos conflitos atuais. Pressionar por uma greve geral contra a guerra e denunciar o alinhamento de centrais sindicais aos interesses da indústria bélica são passos fundamentais.
O Ocidente está se preparando para a guerra, e o silêncio diante disso é perigoso. É necessário romper com a apatia política e fazer frente a um projeto que ameaça transformar o mundo inteiro em campo de batalha.
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