Chamas da História

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Professor Robinson. Tecnologia do Blogger.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O legado do colonialismo americano nas Filipinas: impacto da indústria madeireira


 

O píer da plataforma ferroviária permitia que os produtos fossem carregados em grandes navios de carga. O píer ainda está em uso, mas agora está pavimentado.

Um estudo da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), revelou as profundas marcas deixadas pela exploração madeireira americana nas Filipinas durante o período colonial, de 1898 a 1987. A pesquisa, publicada na revista American Antiquity, investigou a atuação das empresas madeireiras americanas na região de Bikol, destacando o impacto econômico, social e ambiental dessa atividade no país.

As raízes do extrativismo colonial

No início do século XX, com o apoio do regime colonial dos Estados Unidos, empresas madeireiras iniciaram uma exploração intensiva de recursos na região de Bikol. Essa atividade transformou profundamente a paisagem local, com a criação de infraestrutura industrial, o surgimento de novas rotas de transporte e a formação de uma força de trabalho composta principalmente por filipinos.

O residente de Tandoc identifica a base de uma torre de água que já foi usada para a produção de madeira compensada. Fotografia cortesia de Robin Meyer-Lorey. 

Metodologia inovadora

Os pesquisadores utilizaram uma abordagem interdisciplinar para desvendar essas transformações. O estudo combinou materiais de arquivo, análises de topônimos, entrevistas com especialistas locais e trabalhadores, mapeamento por satélite e varreduras de lidar montadas em drones. Essa metodologia permitiu uma visão abrangente das mudanças físicas e sociais na região ao longo de quase um século de colonização.

Consequências duradouras

O impacto da exploração madeireira vai muito além do período colonial. Os padrões de assentamento e a infraestrutura desenvolvida na época continuam a influenciar a organização da região. Desde a independência das Filipinas, em 1946, até a década de 1980, as indústrias locais enfrentaram desafios para se reestruturar, enquanto os efeitos ambientais da exploração continuam a ser uma preocupação.

O estudo também destacou o papel ativo dos trabalhadores filipinos nesse processo, cujas decisões moldaram não apenas a economia regional, mas também a paisagem. Essa dinâmica demonstra como o colonialismo extrativista americano interagiu com o colonialismo de colonização, criando uma complexa rede de influências.

Arqueologia do presente

Este trabalho faz parte de uma tendência emergente na arqueologia, que busca investigar eventos históricos recentes e até contemporâneos. O estudo da UCLA não apenas contribui para o entendimento do legado do imperialismo americano no Sudeste Asiático, mas também oferece lições valiosas sobre as interseções entre exploração econômica, colonialismo e preservação ambiental.

Essa análise profunda do passado colonial americano nas Filipinas nos convida a refletir sobre o impacto duradouro das políticas extrativistas e a importância de reconhecer os legados culturais e ambientais dessas práticas.


MEYER-LOREY, Robin ; ACABADO, Stephen. Manifest Destiny in Southeast Asia: Archaeology of American Colonial Industry in the Philippines, 1898–1987. American Antiquity, v. 89, n. 3, p. 417–439, 2024. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/american-antiquity/article/manifest-destiny-in-southeast-asia-archaeology-of-american-colonial-industry-in-the-philippines-18981987/4B840A4439DD493AE91EA86966C41653>. Acesso em: 29 dez. 2024.

sábado, 28 de dezembro de 2024

A fusão cultural no Império Inca: o que as cerâmicas do Vale de Chincha revelam


 

Placas encontradas nos sítios de La Centinela e Las Huacas 



Pesquisadores da Universidade de Cambridge analisaram cerâmicas dos sítios arqueológicos de La Centinela e Las Huacas, no Vale de Chincha, Peru, para entender as interações entre o Império Inca (1400–1532) e as populações locais. O estudo, publicado na revista Latin American Antiquity, destaca uma integração cultural única entre os designs imperiais incas e as tradições regionais, resultando no que é chamado de cultura material híbrida.

Esse fenômeno é evidência de um modelo de governança conjunta estabelecido pelos incas na região. Segundo a pesquisa, o império utilizou as elites locais como parceiras administrativas, promovendo uma coexistência que preservava identidades regionais enquanto consolidava o controle imperial.

Cerâmicas como ferramentas de integração

Os artefatos cerâmicos estudados combinavam características estilísticas incas e locais. Essa fusão cultural revela uma abordagem colaborativa por parte do Império Inca, que utilizava essas combinações como parte de uma estratégia política para fortalecer sua administração.

Os pesquisadores também observaram que essa hibridização cultural minimizava resistências e garantia a estabilidade nas províncias do império. A colaboração com lideranças locais desempenhou um papel essencial na manutenção do domínio incaico sobre territórios distantes e culturalmente diversos.

Um olhar sobre o passado

O estudo conduzido pela equipe da Universidade de Cambridge oferece novos insights sobre as estratégias de integração cultural e política utilizadas pelos incas durante sua expansão. Além de revelar como as populações locais participaram ativamente do contexto imperial, ele ressalta a importância da adaptação cultural como uma ferramenta de poder.

As descobertas no Vale de Chincha destacam como o Império Inca construiu uma sociedade multicultural, lançando luz sobre a complexidade das relações sociopolíticas no período pré-colombiano.


DALTON, Jordan A. Hybrid Material Culture in the Inca Empire (AD 1400–1532): Analyzing the Ceramic Assemblages from La Centinela and Las Huacas, Chincha Valley. Latin American Antiquity, v. 35, n. 3, p. 576–594, 2023. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/latin-american-antiquity/article/hybrid-material-culture-in-the-inca-empire-ad-14001532-analyzing-the-ceramic-assemblages-from-la-centinela-and-las-huacas-chincha-valley/2EA5FDAAF19DB7B07A7A7C26B02E9193>. Acesso em: 28 dez. 2024.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Zumbi dos Palmares: Símbolo da Resistência e da Consciência Negra no Brasil


 


Em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, celebramos a memória de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da história brasileira e símbolo eterno da luta pela liberdade e igualdade. Sua trajetória de resistência à escravidão e seu legado continuam a inspirar gerações em busca de justiça social.


Nascido em 1655 no Quilombo dos Palmares, Zumbi foi capturado ainda criança por bandeirantes e entregue ao Padre Antônio Melo, que o batizou como Francisco e lhe ensinou leitura, escrita e latim. Contudo, aos 15 anos, fugiu e retornou a Palmares, unindo-se ao movimento de resistência contra o domínio colonial.

O Quilombo dos Palmares, localizado na atual região de Alagoas, foi uma comunidade organizada que resistiu à escravidão por quase um século. Com cerca de 20 mil habitantes espalhados por uma área de 27 mil km², Palmares possuía agricultura avançada, artesanato e uma hierarquia social própria. Sua existência desafiava diretamente o sistema colonial e a economia escravagista.

Após a discordância com seu tio Ganga Zumba, que buscava um acordo de paz com os portugueses, Zumbi emergiu como líder de Palmares, defendendo uma postura de resistência total. Sob sua liderança, o quilombo tornou-se símbolo de liberdade, resistindo bravamente aos ataques portugueses com táticas de guerrilha e profundo conhecimento territorial.

Mesmo com anos de resistência, Palmares foi destruído em 1694 pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. Zumbi continuou a lutar até ser traído e morto em 20 de novembro de 1695. Sua cabeça foi exposta em praça pública para desencorajar outros quilombolas, mas o efeito foi o oposto: Zumbi tornou-se um ícone da resistência negra.
Legado e Consciência Negra

A luta de Zumbi e de Palmares transcendeu os séculos. O 20 de novembro, data de sua morte, foi instituído como Dia Nacional da Consciência Negra, celebrando a resistência à opressão e promovendo reflexões sobre o racismo e as desigualdades no Brasil. Sua história é inspiração em manifestações culturais e acadêmicas, reafirmando a importância de preservar essa memória como parte essencial da identidade nacional.

Estudar Zumbi dos Palmares é crucial para compreender a formação histórica e social do Brasil, além de destacar a relevância do combate ao racismo. Livros como África, Essa Mãe Quase Desconhecida, de Eduardo d’Amorim, reforçam a necessidade de entender as raízes africanas para valorizar as contribuições culturais e resistências históricas do povo negro.

Zumbi dos Palmares personifica a luta por liberdade e igualdade. Sua história ressoa como um apelo à justiça, convocando todos a refletir e agir contra o racismo e a exclusão social. Celebrar Zumbi é celebrar a força de um povo que, apesar de todas as adversidades, continua resistindo e construindo um Brasil mais justo.

domingo, 17 de novembro de 2024

África e a Busca por Novos Mundos Antes de Colombo


 



A narrativa tradicional da "descoberta" da América muitas vezes ignora as contribuições de outras culturas, especialmente a africana, para a exploração do Atlântico. Fontes históricas e relatos sugerem que povos africanos, como os do Império Mali, participaram ativamente na busca por novos mundos muito antes das grandes navegações europeias.


Mansa Musa: Um Imperador em Busca do Fim do Oceano

Uma das histórias mais marcantes vem do Império Mali, sob o comando de Mansa Musa, considerado um dos homens mais ricos da história. Seu predecessor, segundo o historiador árabe al-Umari, era fascinado pela ideia de desvendar o que existia além do Atlântico. Ele organizou uma expedição com 200 navios, equipados com provisões para anos, e partiu em busca de respostas. Apenas um navio retornou, com um relato intrigante: os outros haviam desaparecido ao adentrar um "rio de correnteza violenta" no oceano.

Não satisfeito, o imperador organizou uma frota ainda maior, com 2.000 embarcações, e liderou a expedição pessoalmente. Eles jamais retornaram. Alguns historiadores acreditam que esses exploradores podem ter alcançado a foz do Rio Amazonas, no Brasil, séculos antes de Colombo.


Exploradores de Lisboa e os "Homens de Pele Vermelha"

Outro relato fascinante vem de al-Idrîsîy, que narra a jornada de oito exploradores árabes partindo de Lisboa no século XII. Após onze dias navegando rumo ao oeste, enfrentaram um mar turbulento e decidiram mudar de direção, navegando para o sul. Depois de doze dias, chegaram a uma ilha habitada por "homens de pele vermelha, pouco poilus, de cabelos lisos e altos". Surpreendentemente, foram recebidos por um intérprete que falava árabe, sugerindo contatos prévios entre culturas africanas e essa região.

Embora seja mais provável que tenham alcançado as Ilhas Canárias, o relato reforça a presença significativa de navegadores berberes e árabes no Atlântico.


Berberes e a Possível Origem do Nome "Brasil"

Os berberes, navegadores experientes do norte da África, desempenharam um papel crucial na exploração marítima. O historiador Muhammad Hamidullah sugere que o nome "Brasil" pode ter origem na tribo berbere Birzâlah, conhecida por sua ousadia e comércio marítimo. É possível que eles tenham alcançado as terras que hoje chamamos de Brasil, deixando como legado o nome de sua tribo.


Negros nas Américas Antes de Colombo?

Relatos dos próprios diários de Colombo mencionam a presença de negros nas Américas antes de sua chegada. Indígenas de Hispaniola afirmaram que pessoas negras já habitavam a região e até mostraram lanças feitas com ligas metálicas semelhantes às usadas na África Ocidental. Além disso, esculturas e cerâmicas pré-colombianas com traços africanos reforçam a possibilidade de contatos transatlânticos.


Reavaliando a História da Exploração Atlântica

As histórias de exploradores africanos como Mansa Musa e os relatos de al-Idrîsîy nos convidam a repensar a história tradicional da exploração atlântica. Embora ainda existam debates, essas narrativas evidenciam a possibilidade de que a África tenha desempenhado um papel crucial na exploração marítima, desafiando a visão eurocêntrica da "descoberta" da América. Reconhecer essas contribuições é essencial para uma história mais inclusiva e verdadeira.


 REFERÊNCIAS  

COUDERC, Jean-Mary. LES DÉCOUVERTES DE L’AMÉRIQUE AVANT L’ARRIVÉE DE CHRISTOPHE COLOMB.Mémoires de l’Académie des Sciences, Arts et Belles-Lettres de Touraine, tome 28, 2015, p. 7-42.

 HAMIDULLAH, Muhammad. L'Afrique découvre l'Amérique avant Christophe Colomb.Présence Africaine, Nouvelle série, No. 18/19 (février-mai 1958), pp. 173-183.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Descobertas Arqueológicas Revelam Antiga Civilização no Vale do Upano



Uma imagem LIDAR obtida por pesquisadores em janeiro de 2024 mostra um complexo urbano perdido na floresta amazônica do Equador. O sítio, localizado no Vale de Upano, abrigava pelo menos 10.000 agricultores há cerca de 2.000 anos. Crédito: Antoine Dorison, Stéphen Rostain


Em uma colaboração entre pesquisadores franceses e equatorianos, revelações notáveis sobre uma ancestral civilização indígena, localizada no Vale do Upano, região oeste do Equador, foram recentemente divulgadas. O estudo identificou mais de 6.000 plataformas de terra que, em épocas passadas, serviam como alicerces para habitações e estruturas comunitárias em 15 centros urbanos distintos. Esses centros estavam intricadamente integrados a vastas áreas de terras agrícolas, habilmente drenadas e interligadas por uma rede de estradas.

Urbanismo de Jardim: Um Modelo Único

Stéphen Rostain, renomado pesquisador do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, liderou a equipe e destaca que esse singular modelo de "urbanismo de jardim" é verdadeiramente singular, diferenciando-se de outras regiões nas Américas antigas. Adicionalmente, essa descoberta representa o achado mais antigo já registrado na região.

Escavações Reveladoras

Os pesquisadores, anteriormente, haviam explorado o topo de algumas dessas plataformas no Vale do Upano. No entanto, os novos dados obtidos por meio da tecnologia lidar revelaram uma paisagem completa, repleta de centros urbanos, fazendas, estradas e canais.

Estruturas Antigas e Prósperas

A infraestrutura antiga no Vale do Upano remonta a pelo menos 1.000 anos antes de outras obras de terra recentemente reveladas por levantamentos lidar sob a densa folhagem da Amazônia. A prosperidade dessa civilização é atribuída por Rostain a uma "conjunção de boas vibrações" para uma sociedade agrícola.

Assentamentos Intricados

Cada assentamento compreendia diversos grupos de plataformas, interligados por estradas. Alguns eram pequenos, com apenas algumas plataformas por quilômetro quadrado, enquanto outros, como Sangay, dominavam extensas porções do vale, abrigando mais de 100 plataformas em cada quilômetro quadrado. Os centros urbanos maiores possuíam plataformas mais imponentes, sugerindo a presença de edifícios comunitários destinados a rituais, trabalho cooperativo ou eventos sociais.

Imagem traduzida do arquivo original da pesquisa. Two Thousand Years of Garden Urbanism in the Upper Amazon,” by Stéphen Rostain et al., in Science, Vol. 383. Published online January 18, 2024.


Rede de Estradas Surpreendente

Uma intricada rede de estradas conectava Sangay e outros centros-chave, como Kilamope. Essas vias, notavelmente lineares, eram escavadas a dois ou três metros de profundidade, cercadas por elevados meios-fios de terra empilhada.

Legado Ancestral Esquecido

Quando os colonizadores europeus adentraram a bacia amazônica, a densa floresta havia ocultado o que outrora fora uma paisagem densamente habitada, com comunidades vibrantes e uma infraestrutura meticulosamente planejada. Contudo, as marcas deixadas por essas civilizações ancestrais nunca desapareceram por completo da paisagem.

Perspectivas Futuras

Rostain e sua equipe estão atualmente investigando a extensão das cidades-jardim no Vale do Upano, além dos 300 quilômetros quadrados da área de pesquisa inicial. Além disso, eles demonstram interesse em compreender as possíveis interações entre os habitantes do Vale do Upano e as culturas do lado oposto dos Andes. As futuras pesquisas prometem desvendar ainda mais os mistérios dessa civilização antiga e suas conexões culturais.

Fonte:
Stéphen Rostain et al. ,Two thousand years of garden urbanism in the Upper Amazon.Science383,183-189(2024).DOI:10.1126/science.adi6317

domingo, 7 de janeiro de 2024

Como o campo magnético dos tijolos revela a história de Gate?


Um dos tijolos de barro queimados estudados (Crédito da foto: Dr. Yoav Vaknin)

    Essa informação é crucial para uma interpretação correta das descobertas arqueológicas, permitindo que os pesquisadores compreendam melhor o contexto histórico em que esses materiais foram utilizados. O estudo, que envolveu uma abordagem multidisciplinar, foi liderado pelo Dr. Yoav Vaknin, do Instituto de Arqueologia Sonia & Marco Nadler, da Faculdade de Humanidades da Universidade de Tel Aviv, em colaboração com o Laboratório Paleomagnético da Universidade Hebraica. Outros pesquisadores renomados também contribuíram para essa importante pesquisa, como o Prof. Ron Shaar, do Instituto de Ciências da Terra da Universidade Hebraica, o Prof. Erez Ben-Yosef e o Prof. Oded Lipschits, do Instituto de Arqueologia Sonia & Marco Nadler da Universidade de Tel Aviv, o Prof. Aren Maeir, do Departamento de Estudos da Terra de Israel e Arqueologia da Universidade Bar-Ilan, e o Dr. Adi Eliyahu Behar, do Departamento de Estudos da Terra de Israel e Arqueologia e do Departamento de Ciências Químicas da Universidade Ariel. Os resultados dessa pesquisa foram publicados na renomada revista científica PLOS ONE. 
    O Prof. Lipschits ressalta a importância desse avanço tecnológico: "Durante as Idades do Bronze e do Ferro, os tijolos de barro eram o principal material de construção na maioria das regiões da Terra de Israel. Compreender a tecnologia utilizada na fabricação desses tijolos é fundamental para a interpretação correta das descobertas arqueológicas." O Dr. Vaknin complementa: "Durante o mesmo período, em outras regiões como a Mesopotâmia, onde a pedra era escassa, os tijolos de barro eram queimados em fornos para aumentar sua resistência e durabilidade. Essa técnica é mencionada na história da Torre de Babel, no Livro de Gênesis: 'E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra' (Gênesis 11, 3). No entanto, acreditava-se que essa tecnologia só chegou à Terra de Israel muito mais tarde, com a conquista romana. Até então, os habitantes utilizavam tijolos de barro secados ao sol. Portanto, quando encontramos tijolos em escavações arqueológicas, surgem várias perguntas: eles foram queimados? Se sim, foram queimados em um forno antes da construção ou no local, em um evento de incêndio destrutivo? Nosso método pode fornecer respostas conclusivas para essas questões."

    O novo método baseia-se na medição do campo magnético registrado e "travado" no tijolo à medida que ele queima e esfria. Dr. Vaknin: "A argila da qual os tijolos foram feitos contém milhões de partículas ferromagnéticas - minerais com propriedades magnéticas que se comportam como pequenas 'bússolas' ou ímãs. Em um tijolo de barro seco ao sol, a orientação desses ímãs é quase aleatória, de modo que eles se cancelam mutuamente. Portanto, o sinal magnético geral do tijolo é fraco e não uniforme. O aquecimento a 200°C ou mais, como acontece em um incêndio, libera os sinais magnéticos dessas partículas magnéticas e, estatisticamente, elas tendem a se alinhar com o campo magnético da Terra naquele momento e local específicos. Quando o tijolo esfria, esses sinais magnéticos permanecem travados em sua nova posição e o tijolo adquire um campo magnético forte e uniformemente orientado, que pode ser medido com um magnetômetro. Isso é uma indicação clara de que o tijolo foi, de fato, queimado. 
     Na segunda etapa do procedimento, os pesquisadores gradualmente "apagam" o campo magnético do tijolo, usando um processo chamado desmagnetização térmica. Isso envolve aquecer o tijolo em um forno especial em um laboratório paleomagnético que neutraliza o campo magnético da Terra. O calor libera os sinais magnéticos, que mais uma vez se organizam aleatoriamente, se cancelando mutuamente, e o sinal magnético total se torna fraco e perde sua orientação. Dr. Vaknin: "Realizamos o processo gradualmente. Primeiro, aquecemos a amostra a uma temperatura de 100°C, o que libera os sinais de apenas uma pequena porcentagem dos minerais magnéticos. Em seguida, resfriamos e medimos o sinal magnético restante. Repetimos o procedimento em temperaturas de 150°C, 200°C e assim por diante, avançando em pequenos passos, até 700°C. Dessa forma, o campo magnético do tijolo é gradualmente apagado. A temperatura em que o sinal de cada mineral é 'desbloqueado' é aproximadamente a mesma temperatura em que ele foi inicialmente 'travado', e, por fim, a temperatura em que o campo magnético é totalmente apagado foi alcançada durante o incêndio original." Os pesquisadores testaram a técnica no laboratório: eles queimaram tijolos de barro em condições controladas de temperatura e campo magnético, mediram o campo magnético adquirido por cada tijolo e, em seguida, o apagaram gradualmente. Eles descobriram que os tijolos foram completamente desmagnetizados na temperatura em que foram queimados - provando que o método funciona. Dr. Vaknin: "Nossa abordagem permite identificar queima que ocorreu em temperaturas muito mais baixas do que qualquer outro método. A maioria das técnicas usadas para identificar tijolos queimados é baseada em mudanças reais nos minerais, que geralmente ocorrem em temperaturas superiores a 500°C - quando alguns minerais se convertem em outros."

    As descobertas do Prof. Maeir são muito importantes para decifrar a intensidade do incêndio e o alcance da destruição em Gate, a maior e mais poderosa cidade na Terra de Israel na época, bem como para entender os métodos de construção predominantes naquela era. É importante revisar as conclusões de estudos anteriores e, às vezes, até refutar interpretações anteriores, mesmo que tenham vindo da sua própria escola.

    O Prof. Ben-Yosef acrescenta que além de sua importância histórica e arqueológica, os antigos métodos de construção também tinham grandes implicações ecológicas. A tecnologia de queima de tijolos requer grandes quantidades de materiais combustíveis, e na antiguidade isso poderia ter levado a um vasto desmatamento e até mesmo à perda de espécies de árvores na área. Por exemplo, certas espécies de árvores e arbustos explorados pela indústria de cobre antiga no Vale de Timna ainda não se recuperaram até hoje, e a própria indústria entrou em colapso uma vez que esgotou seus combustíveis naturais. Nossas descobertas indicam que a tecnologia de queima de tijolos provavelmente não era praticada na Terra de Israel nos tempos dos Reis de Judá e Israel.

New Technology Interprets Archaeological Findings from Biblical Times. Tel Aviv University. Disponível em: <https://english.tau.ac.il/research/archaeological-findings-from-biblical-times>. Acesso em: 7 jan. 2024.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Descoberta Arqueológica na Sérvia Revela tintinabulo Romano Mágico com Falo: Proteção Contra o Mal e Evidência da Influência Romana em Viminacium


 

Como muitos tintinnábulos, este apresentava um retrato de um falo descomunal com asas e pernas. Eles deveriam assustar os espíritos malignos com sua aparência incomum e o barulho que faziam ao vento. (Crédito da imagem: Instituto de Arqueologia, Belgrado)


Arqueólogos desenterraram, na região leste da Sérvia, um tintinnabulum (carrilhão de vento ou conjunto de sinos) romano, um tipo de móbile, que apresenta um fálico proeminente. Esses objetos, geralmente pendurados próximos às entradas de casas e lojas, eram acreditados como proteção mágica para os ambientes. Este, em particular, foi encontrado no alpendre de uma residência ampla, localizada em uma rua principal de Viminacium, uma antiga cidade romana cujas vastas ruínas estão agora próximas à cidade sérvia de Kostolac, a cerca de 50 quilômetros a leste de Belgrado.

O tintinnabulum em questão foi descoberto nos escombros da residência, a qual foi destruída pelo fogo, ocasionando o desabamento do alpendre. Ilija Danković, arqueólogo do Instituto de Arqueologia de Belgrado, relatou ao site sérvio Sve o arheologiji que, durante as escavações, foi identificada imediatamente a natureza do objeto e sua importância.

Tintinnabulums, como esse, eram projetados para capturar o vento, supostamente para que seu barulho e aparência incomum afastassem espíritos malignos e protegessem contra o mau-olhado, temido na antiguidade. Viminacium, a capital civil e militar da província romana da Mésia Superior do primeiro ao quinto século, foi saqueada pelos hunos liderados por Átila em 441. Reconstruída pelo imperador bizantino Justiniano, foi finalmente destruída pelos eslavos invasores por volta de 535.

Este tintinnabulum em particular, feito de bronze, está sendo mantido em contato com o solo até sua restauração adequada, tornando sua configuração exata desconhecida no momento. No entanto, Danković revelou que ele possui um "fascinum" central - representação de um falo mágico - com duas pernas, asas e uma cauda. O objeto apresenta quatro sinos e uma corrente para suspensão, além de elementos de design únicos em comparação a outros tintinnabulums conhecidos.

Danković destaca que a descoberta desse artefato indica que as elites sociais da cidade provincial de Viminacium compartilhavam as mesmas crenças dos habitantes do coração do império romano e tinham recursos para investir em objetos importados. Ele enfatiza que a presença do tintinnabulum sugere que Viminacium era, em todos os sentidos, parte do mundo romano.

O símbolo fálico, na visão dos romanos antigos, não era apenas erótico ou obsceno, mas sim um portador de boa sorte e felicidade, além de eficiente contra o mau-olhado. O falo era frequentemente exibido publicamente para atrair prosperidade e dissuadir ladrões. A descoberta reforça a ideia de que Viminacium não apenas adotava muitas crenças romanas, mas também importava objetos, indicando a presença de elites sociais dispostas a investir significativamente em tais artefatos.

Ken Dark, arqueólogo e historiador do King's College London, que não esteve envolvido na descoberta, considera o tintinnabulum de Viminacium um tipo de amuleto apotropaico destinado a afastar influências maléficas e proteger pessoas ou propriedades. Ele destaca que tais amuletos eram comuns no mundo romano, muitas vezes assumindo formas que nos pareceriam estranhas ou até mesmo cômicas nos dias de hoje.


METCALFE, Tom. “Magical” Roman wind chime with phallus, believed to ward off evil eye, unearthed in Serbia. livescience.com. Disponível em: <https://www.livescience.com/archaeology/romans/magical-roman-wind-chime-with-phallus-believed-to-ward-off-evil-eye-unearthed-in-serbia>. Acesso em: 13 nov. 2023.