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quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O legado do colonialismo americano nas Filipinas: impacto da indústria madeireira


 

O píer da plataforma ferroviária permitia que os produtos fossem carregados em grandes navios de carga. O píer ainda está em uso, mas agora está pavimentado.

Um estudo da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), revelou as profundas marcas deixadas pela exploração madeireira americana nas Filipinas durante o período colonial, de 1898 a 1987. A pesquisa, publicada na revista American Antiquity, investigou a atuação das empresas madeireiras americanas na região de Bikol, destacando o impacto econômico, social e ambiental dessa atividade no país.

As raízes do extrativismo colonial

No início do século XX, com o apoio do regime colonial dos Estados Unidos, empresas madeireiras iniciaram uma exploração intensiva de recursos na região de Bikol. Essa atividade transformou profundamente a paisagem local, com a criação de infraestrutura industrial, o surgimento de novas rotas de transporte e a formação de uma força de trabalho composta principalmente por filipinos.

O residente de Tandoc identifica a base de uma torre de água que já foi usada para a produção de madeira compensada. Fotografia cortesia de Robin Meyer-Lorey. 

Metodologia inovadora

Os pesquisadores utilizaram uma abordagem interdisciplinar para desvendar essas transformações. O estudo combinou materiais de arquivo, análises de topônimos, entrevistas com especialistas locais e trabalhadores, mapeamento por satélite e varreduras de lidar montadas em drones. Essa metodologia permitiu uma visão abrangente das mudanças físicas e sociais na região ao longo de quase um século de colonização.

Consequências duradouras

O impacto da exploração madeireira vai muito além do período colonial. Os padrões de assentamento e a infraestrutura desenvolvida na época continuam a influenciar a organização da região. Desde a independência das Filipinas, em 1946, até a década de 1980, as indústrias locais enfrentaram desafios para se reestruturar, enquanto os efeitos ambientais da exploração continuam a ser uma preocupação.

O estudo também destacou o papel ativo dos trabalhadores filipinos nesse processo, cujas decisões moldaram não apenas a economia regional, mas também a paisagem. Essa dinâmica demonstra como o colonialismo extrativista americano interagiu com o colonialismo de colonização, criando uma complexa rede de influências.

Arqueologia do presente

Este trabalho faz parte de uma tendência emergente na arqueologia, que busca investigar eventos históricos recentes e até contemporâneos. O estudo da UCLA não apenas contribui para o entendimento do legado do imperialismo americano no Sudeste Asiático, mas também oferece lições valiosas sobre as interseções entre exploração econômica, colonialismo e preservação ambiental.

Essa análise profunda do passado colonial americano nas Filipinas nos convida a refletir sobre o impacto duradouro das políticas extrativistas e a importância de reconhecer os legados culturais e ambientais dessas práticas.


MEYER-LOREY, Robin ; ACABADO, Stephen. Manifest Destiny in Southeast Asia: Archaeology of American Colonial Industry in the Philippines, 1898–1987. American Antiquity, v. 89, n. 3, p. 417–439, 2024. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/american-antiquity/article/manifest-destiny-in-southeast-asia-archaeology-of-american-colonial-industry-in-the-philippines-18981987/4B840A4439DD493AE91EA86966C41653>. Acesso em: 29 dez. 2024.