O legado do colonialismo americano nas Filipinas: impacto da indústria madeireira
O píer da plataforma ferroviária permitia que os produtos fossem carregados em grandes navios de carga. O píer ainda está em uso, mas agora está pavimentado. |
Um estudo da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), revelou as profundas marcas deixadas pela exploração madeireira americana nas Filipinas durante o período colonial, de 1898 a 1987. A pesquisa, publicada na revista American Antiquity, investigou a atuação das empresas madeireiras americanas na região de Bikol, destacando o impacto econômico, social e ambiental dessa atividade no país.
As raízes do extrativismo colonial
No início do século XX, com o apoio do regime colonial dos Estados Unidos, empresas madeireiras iniciaram uma exploração intensiva de recursos na região de Bikol. Essa atividade transformou profundamente a paisagem local, com a criação de infraestrutura industrial, o surgimento de novas rotas de transporte e a formação de uma força de trabalho composta principalmente por filipinos.
O residente de Tandoc identifica a base de uma torre de água que já foi usada para a produção de madeira compensada. Fotografia cortesia de Robin Meyer-Lorey. |
Metodologia inovadora
Os pesquisadores utilizaram uma abordagem interdisciplinar para desvendar essas transformações. O estudo combinou materiais de arquivo, análises de topônimos, entrevistas com especialistas locais e trabalhadores, mapeamento por satélite e varreduras de lidar montadas em drones. Essa metodologia permitiu uma visão abrangente das mudanças físicas e sociais na região ao longo de quase um século de colonização.
Consequências duradouras
O impacto da exploração madeireira vai muito além do período colonial. Os padrões de assentamento e a infraestrutura desenvolvida na época continuam a influenciar a organização da região. Desde a independência das Filipinas, em 1946, até a década de 1980, as indústrias locais enfrentaram desafios para se reestruturar, enquanto os efeitos ambientais da exploração continuam a ser uma preocupação.
O estudo também destacou o papel ativo dos trabalhadores filipinos nesse processo, cujas decisões moldaram não apenas a economia regional, mas também a paisagem. Essa dinâmica demonstra como o colonialismo extrativista americano interagiu com o colonialismo de colonização, criando uma complexa rede de influências.
Arqueologia do presente
Este trabalho faz parte de uma tendência emergente na arqueologia, que busca investigar eventos históricos recentes e até contemporâneos. O estudo da UCLA não apenas contribui para o entendimento do legado do imperialismo americano no Sudeste Asiático, mas também oferece lições valiosas sobre as interseções entre exploração econômica, colonialismo e preservação ambiental.
Essa análise profunda do passado colonial americano nas Filipinas nos convida a refletir sobre o impacto duradouro das políticas extrativistas e a importância de reconhecer os legados culturais e ambientais dessas práticas.
MEYER-LOREY, Robin ; ACABADO, Stephen. Manifest Destiny in Southeast Asia: Archaeology of American Colonial Industry in the Philippines, 1898–1987. American Antiquity, v. 89, n. 3, p. 417–439, 2024. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/american-antiquity/article/manifest-destiny-in-southeast-asia-archaeology-of-american-colonial-industry-in-the-philippines-18981987/4B840A4439DD493AE91EA86966C41653>. Acesso em: 29 dez. 2024.