Resistir, persistir, refletir



Texto da Profª Drª  Sônia Maria de Meneses Silva na abertura do III Seminário Nacional de História e Contemporaneidades

O III Contemporaneidades deste ano convida à reflexão, mas, sobretudo à resistência. Em 2013, ano do primeiro encontro, cujo do tema foi “As Dimensões Políticas da Escrita da História e o futuro do passado” nosso desafio foi pensar os meandros políticos presentes na produção historiográfica, mas também, interrogarmos sobre o futuro do nosso passado e do nosso ofício. Uma provocação para que tentássemos imaginar nosso fazer a partir do presente em ebulição. 
Naquele ano assistimos às grandes manifestações populares que tomaram às ruas no mês de junho. Episódio que mesmo agora buscamos compreender a complexidade, mas que, já naquelas semanas deixou claro que algo estava no ar. As ruas foram tomadas por muitas demandas, forças opostas, pautas variadas. Em meio aos gritos por direitos, mudanças políticas, identidades, busca por liberdade, forças conservadoras também encontram o espaço ideal para se reunirem, ganharam entusiasmo e aglutinaram os anseios e as insatisfações represadas de uma classe média reativa às transformações sociais em curso no país.
O reacionarismo emergiu como bandeira e instigou uma crescente onda de intolerância na cena pública, aspectos que nos inspiraram na segunda edição de nosso evento com o tema: “Pensar o passado em tempos de extremismos e exclusões” em 2015.
Naquele ano rapidamente caminhamos para um processo de mudanças drásticas no país. Os grupos conservadores formados nas ruas em 2013, agora haviam se tornado um movimento organizado em frentes diversas, especialmente, redes sociais e financiados por grandes empresas e políticos, difundido o caos na informação através de Fake News.  Tal movimento foi sustentado também por um congresso nacional dominando por latifundiários, fundamentalistas religiosos  e forças policiais. De outro lado, o poder judiciário mostrou-se alinhado com às demandas políticas advindas desses grupos e se proliferaram episódios esdrúxulos de interpretação da lei, arbitrariedades jurídicas e ações policiais espalhafatosas amparadas pela cobertura dos grandes meios de comunicação. 
Em meio a tudo isso, nossas esquerdas se demonstraram incapazes de estruturar uma reação à altura dos processos em curso, perdida em meio suas fissuras internas, como também, pela incapacidade de avaliar seus próprios erros frente a esse cotidiano.
Assim assistimos, em menos de um ano, ao desmantelamento de um governo eleito num golpe Jurídico-parlamentar e midiático. Em 2016 a votação do falacioso processo de impeachment que derrubou Dilma Rousseff pode ser descrito como um dos episódios mais vergonhosos e indignos de nossa história. Fomos confrontados um Congresso zombador que teve como máxima argumentativa o cinismo, o escárnio e um total desrespeito pelas instituições democráticas do país. Em inacreditáveis 18 meses retornam ao nosso cotidiano expressões e situações que imaginávamos no passado: intervenção militar, caça aos comunistas, censura, fome, desemprego, ataque às universidades, perseguição à professores, golpe.
Nós que fazermos parte do III Contemporaneidades reafirmamos o caráter golpista desse movimento e do processo de usurpação de diretos ora em curso no país, deste modo esperamos que essa semana seja um rico momento de reflexões, do livre pensamento, do respeito às diversidades étnicas e de gênero e da reafirmação da universidade como espaço defesa do conhecimento, da cidadania e dos direitos humanos.