BEM VINDO À CASA DE BONECAS

  Por Hernâni Oliveira  
   
Esse filme norte-americano intitulado “Bem-Vindos à Casa de Bonecas” (1995) está classificado como comédia, porém não tem graça. E onde está a graça do filme? A indústria cinematográfica estadunidense o classificou assim, pois não somente para eles mais para boa parte da população mundial ser diferente é motivo de piadas e repressões.
Pois bem, esse filme conta a história de uma jovem que sofre Bullying na escola por parte de seus colegas. A personagem Dawn Weiner, passa por um drama escolar, a qual é insultada de feia e com um apelido grotesco de cara-de-cachorro ela tenta se inserir no convívio social. Por ser um pouco diferente dos padrões de beleza da sociedade que faz parte, ela é excluída e reprimida por outros colegas.
Pegando um pouco da teoria dos campos de Pierre Bourdieu, é possível detectar que Dawn, não está sendo aceita em nenhum dos campos sociais a qual está inserida, nem na escola e muito menos na família que seria em tese o mais fácil de alocar. A família da jovem Dawn é uma típica família representada nas produções dos ianques, ou seja, pessoas consideradas normais, um estilo ideal a ser seguido no padrão “American way of life”.
O título do filme já sintetiza muita coisa, pois “a casa das bonecas”, nada mais é que uma família feliz de fachada, artificial e fria em suas atitudes. O filme às vezes sufoca quem o assiste pela crueldade dos pais dessa garota que a rejeitam sumariamente, não importa o que ela faça sempre vai ser tachado como algo ruim ou indigno de congratulações.
Dawn Weiner tenta se enturmar com os colegas que resistem em deixar a miserável fazer parte de seus círculos de amizades. Daí ela tenta ser “descolada”, até almeja namorar um colega de seu irmão bem mais velho que ela, tornando-se até a única fã da banda de garagem deles. Começa até a mudar um pouco seu figurino.
Outro detalhe interessante do filme é que quando Dawn sofre algum tipo de repressão ela transmite o que sentiu na pele para outros indivíduos, nos quais ela pode descontar sua raiva, como por exemplo, chamar a irmã de lésbica e seu melhor amigo de “bicha”. O problema disso é que vai se tornando uma bola de neve de insultos que cedo ou tarde vira algo normal, a tipo da expressão “é coisa de jovem”, ou “coisas de adolescentes”, “é normal para a idade”, etc.
O pior disso tudo é que esses jovens que sofrem Bullying, não se esquecem dessas perseguições e repressões dos colegas covardes, daí geram com frequência jovens perturbados que veem como única forma de dar o troco na sociedade pegando em armas e ferindo ou matando os colegas de classe, mesmo que às vezes nem fossem os seus opressores. A exemplo disso houve o massacre de Columbine realizado pelos jovens Eric Harris e Dylan Klebold, que com armas de fogo e um arsenal de bombas caseiras invadiram o colégio, mataram 12 alunos, um professor e cometeram suicídio. Esse fato ocorreu em 20 de abril de 1999, de lá pra cá outros casos aconteceram na terra do Tio Sam e em sua maioria foram associados ao Bullying.
Em uma das cenas do filme, Dawn pega um martelo e por pouco não mata a irmã mais nova que era muito paparicada pelos pais. Certo dia Dawn não repassa a informação da mãe para sua irmã que não poderia busca-la na escola, o que resultou no sequestro da irmã caçula. Daí a casa desmorona, com o sequestro da filha o pai fica doente e a mãe desolada.
Dawn toma a iniciativa de ir atrás de sua irmã em Nova York. Pregando cartazes da desaparecida e perambulando pelas ruas com a foto da irmã, sem sucesso liga para sua casa e descobre que a irmã tinha sido localizada, e sua viagem à metrópole não fora nem percebida pelos pais que nem ao menos a agradeceram ou a repreenderam por ter ido sozinha.

Por fim, pelas inúmeras tentativas de ser aceita na sociedade, Dawn Weiner, cede aos opressores e mantem sua vida de criança ao visitar a Walt Disney World, e deixa sua adolescência pra depois, ou para quando puder exercê-la.