As relações entre a História da Ciência e a Filosofia da Ciênica a luz da periodicidade dos cometas


O texto a seguir aborda a construção de teorias sobre a periodicidade dos cometas, onde foram utilizadas concepções que englobam a metafísica, a filosofia, a mitologia e a história. Diversos cientistas utilizaram a história dos cometas e de concepções filosóficas elaboradas ao longo da história para desvendar os problemas sobre a periodicidade dos cometas. Portanto, a relação entre a História da Ciência e Filosofia da Ciência, pode ser estabelecida através de exemplos práticos sobre a construção da ciência astronômica ao longo do século XVIII, tendo em vista que os modelos criados tentavam estabelecer um ordenamento sobre as preposições que foram levantadas ao longo da história, levando em consideração que para analisa-las era necessário o uso da filosofia, como pressuposto de análise da construção do cosmo. Ademais, podemos ressaltar no século XVIII, que a preocupação dos cientistas que tentaram dar uma racionalidade ao cosmo, era se a matéria construída por bases histórica e filosófica, seria ou não aceita pela comunidade científica.

Segundo Kuhn, "(...) no início do século XVII, Francis Bacon proclamou a utilidade das histórias do saber para quem haveria de descobrir a natureza e o adequado uso da razão humana.(...)" .[1] O desenvolvimento do campo da ciência, teve a princípio uma preocupação filosófica baseada na discussão do pensamento científico do Ocidente.

Durante o século XVIII, os principais astrônomos europeus estavam preocupados em discutir sobre a natureza dos cometas, bem como a sua periodicidade, a partir das concepções filosóficas de Bacon e resgatando os relatos históricos, bem como, o conhecimento produzido durante a antiguidade sobre os cometas.

Jean-Jacques Cassini utilizou então de concepções mitológicas e filosóficas, para determinar a periodicidade dos cometas, propondo "(...) a idéia audaciosa - inédita na literatura científica, embora explícita nas tradições tribais dos povos Bantu-Kavirondo africanos - de que era o mesmo cometa que voltava à Terra a longos intervalos. (...)". [2] Essa hipótese foi logo em seguida refutada por Edmund Halley, que foi o primeiro astrônomo a determinar as órbitas dos cometas, bem como a periodicidade através de um método científico confiável.

Ao utilizar concepções filosóficas e de construções históricas de outros povos, para explicar a sua hipótese, através da leitura de diversas obras a respeito dos cometas, Cassini aponta a importância da História e da Filosofia, para a construção e para o nascimento de uma ciência mais eficaz que explique a natureza dos cometas com maior exatidão. Muitos dos problemas abordados sobre os cometas durante o século XVIII, nos remetem ao pensamento medieval sobre as concepções do universo. A busca da razão para explicar a periodicidade dos cometas foi estimulada pela visão iluminista da ciência, a partir de concepções filosóficas e históricas que trabalharam conjuntamente para solucionar o problema.



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[1] Thomas Kunh, A tensão essencial. Lisboa, 1989, p. 144.

[2] Carl Sagan - Na Druyan, Cometa. Rio de Janeiro, 1986, p. 43