
Foi recentemente descoberto perto do monumento megalítico de Stonehenge um complexo eventualmente habitacional contendo uma rica variedade de artefactos que podem contribuir para fazer nova luz sobre as vidas e práticas religiosas do povo que há cerca de quatro mil e seiscentos anos construiu em Stonehenge o misterioso cromeleque* mundialmente conhecido (e que é um candidato a figurar entre as novas sete maravilhas do mundo).
Este achado parece indicar que o complexo religioso de Stonehenge era na realidade mais amplo do que parecia.
Parece indicar também que o Povo que o pôs de pé era especialmente amigo de festas e reunia-se regularmente para realizar festivais.
Aparentemente, esta nova descoberta vem enriquecer a ideia que os estudiosos tinham a respeito das suas eventuais funções. Costuma-se pensar que Stonehenge seria ao mesmo tempo um vasto cemitério e um observatório astronómico usado para antigas cerimónias solsticiais. É composto de círculos concênctricos de pedras maciças, algumas pesando cerca de cinquenta toneladas, rodeadas por um banco de terra e por um poço. Algumas delas parecem ter sido trazidas de Gales, a cento e cinquenta milhas de distância. A estrutura terá sido construída mais ou menos na época em que no Egipto se fazia a pirâmide de Gizé.
Stonehenge seria um centro religioso onde se realizavam solenes cerimónias do meio do Inverno antes de mandar os mortos para sua viagem no mundo além túmulo. Está alinhado com o nascer do Sol no Solstício de Inverno e com o pôr do Sol no Solstício de Verão. Aí perto, o sítio agora descoberto, o de Durrington Wall, que tem também um «henge», está orientado de modo inverso, o que parece indicar uma função de complementaridade com Stonehenge, ou seja, aí as pedras estão alinhadas com o nascer do Sol no Solstício de Inverno e com o pôr do Sol no Solstício de Verão.
As casas do novo sítio arqueológico são quadradas, relativamente pequenas e têm ao centro uma lareira, de forma oval e escavada no solo.
São também muito semelhantes às do norte da Escócia, as quais terão sido construídas em pedra porque a terra tinha por alguma razão perdido o seu arvoredo.
Muitos dos ossos de animais aí encontrados foram deitados fora ainda com bastante carne por comer, o que pode indicar que este povo vivia em clima de abundância e festejos, com competições de tiro ao arco (como sugerem as pontas de seta mergulhadas em carne de porco).
As pessoas mais importantes enterradas neste complexo eram cremadas. As outras eram inumadas. (O mesmo se passava entre os antigos Escandinavos - os falecidos nobres eram incinerados para deste modo ascenderem mais facilmente à celestial morada de Odin, o Valhala, enquanto os cadáveres das pessoas comuns eram enterrados para mais facilmente descerem Hela, a Deusa do mundo dos mortos nórdico).
E há muito mais para ler no artigo... especulações, basicamente, mas especulações elaboradas com bases em achados concretos, da autoria de especialistas na matéria...
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* «Cromeleque» vem de «cromlech», termo cunhado no século XIX para descrever estas estranhas e colossais estruturas pétreas. A língua usada para fabricar o novo termo foi o idioma céltico britónico (comum a Gales, à Cornualha e à Bretanha do noroeste de França), uma vez que nessa altura chegou-se a pensar que os megálitos tinham sido construídos pelos povos célticos. Actualmente, é já sabido por qualquer estudante ou curioso do tema que este tipo de edificações pré-históricas precedem a vinda das primeiras imigrações célticas; todavia, no moderno imaginário popular, tais estrutuas continuam a ser associadas aos Druidas (classe sacerdotal céltica), especialmente Stonehenge, tanto que este local continua a ser frequentado por neo-druidas e outros neo-pagãos.
As designações clássicas, já desactualizadas entre os arqueólogos, são:
- Cromlech vem de «Crom», «Curco» + «Lech», pedra lisa. Um cromlech é uma espécie de círculo de mesas de pedra.
- Dolmen vem de «Dol», «Mesa» e «Men», «Pedra». Um dolmen é composto de duas pedras colocadas na vertical e uma posta na horizontal, sobre as outras duas. Parece ser um monumento funerário.
- Menhir vem de «Men», «Pedra» e «Hir», comprido. Consiste numa pedra comprida enfiada verticalmente na terra, tendo assim um aspecto fálico. Pode ter a ver com o culto da fertilidade.
Entretanto, formou-se nova designação para monumentos semelhantes a Stonehenge, que é «Henge».
Quanto ao topónimo «Stonehenge», foi criado com o Inglês Antigo (língua antepassada do moderno Inglês, como é bom de ver). «Stone» é «Pedra» e «Henge» tanto pode ser «Dobradiça» como pode ser «Forca». É de qualquer modo curioso verificar que «Stonehenge» parece ter em Portugal um exacto equivalente linguístico, que é Carenque, palavra na qual a partícula «Car» é de origem céltica e designa precisamente o mesmo que «stone», isto é, «Pedra».