Zelig

 


ZELIG. Direção Woody Allen e Produção Robert Greenhut. Estados Unidos: Orion Pictures / Warner Bros), 1983. Preto e branco (cor em algumas cenas). 79 min. Legendado. Port.

                O filme Zelig, produzido no início dos anos 80, foi dirigido por ninguém menos que Woody Allen e produzido por Robert Greenhut. Esse filme que teve todos os elementos padrões de um documentário real, desde o narrador ou até mesmo cenas reais e depoimentos de pessoas que validam a história do personagem principal, o “Leonard Zelig”, cativa do começo ao fim todo bom amante da sétima arte.

            O enredo se passa nas décadas de 1920 e 1930 (durante o período da grande depressão econômica de 1929), e conta a curiosa vida de Leonard Zelig interpretado pelo Woody Allen. Zelig tem a capacidade de se tornar um “camaleão” humano, assumindo as características físicas e mentais de qualquer pessoa, simplesmente para ser aceito por elas.

A priori Zelig é tratado pela “opinião pública” como algo inusitado, até mesmo herói/aberração que precisava urgentemente de ajuda médica. Dessa forma entra em cena a psicanalista Eudora Fletcher que tem a árdua missão de consertar o transtorno de personalidade de Zelig.

            Essa assimilação cultural ou assimilação social que está intrinsicamente ligada ao modo de vida americano, o qual se apresenta como modelo ideal de cidadão civilizado do ocidente, será o objetivo de Eudora em busca de adaptar Zelig ao sistema dominante.  

Um dos pontos mais interessantes do filme é a crítica justamente a esse modelo de vida norte-americana, enlatada, onde todos tem que ser iguais, onde o diferente é tratado como fora do padrão. No caso de Zelig, o mesmo foi aclamado como celebridade onde fizeram canções, filmes, camisetas, broches, jogos, entre outros utensílios que satisfizesse os anseios da sociedade de consumo.  Essa sociedade que aclama é a mesma que o condena quando atingem os valores morais cristãos da população dos EUA. Nota-se durante todo o filme o vai e vem da opinião pública sobre o modo de vida híbrida de Zelig.

O Zelig na linha de pensamento do antropólogo britânico Edward Tylor poderia ser enquadrado como um ser de cultura, pois a cultura corresponde à adaptação do homem aos diferentes ambientes, ou seja, ao comportamento aprendido[1]. O personagem Zelig representa também o complexo do pluralismo de identidades possíveis apreendidas linearmente.

Quando estava assistindo ao filme lembrei-me da crítica do antropólogo estadunidense, Clifford Geertz, sobre o conhecimento de uma cultura nos ser passado de segunda ou terceira mão por causa da peneira do antropólogo que analisa, onde somente um nativo poderia descrever sua cultura em primeira mão[2]. Zelig seria tipo aqueles antropólogos positivistas que ao se inserir em determinada cultura logo pelo convívio, conseguiria interpreta-la e assimila-la tornando-se igual a um nativo.



[1] LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

[2] GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.