De
início o texto trata de explanar o contexto de uma nova forma de produzir e
difundir canções sem interseção ou a mão das grandes corporações (majors) de
gravadoras renomadas, que é a música independente. Considerada um tipo de
contra-mainstream (contra o fluxo principal) os artistas independentes
produziam na maioria das vezes músicas que fugiam a lógica do mercado (que era
preocupado em suma na quantidade e não na qualidade dos discos vendidos).
Os majors podem modelar o padrão ou
estilo de um artista, uma vez que está em questão não o que o artista gosta,
mas o que o público supostamente quer ouvir, pois o importante é a demanda, a
vendagem. Conheço integrantes de bandas de forró que me disseram que tocam esse
estilo não porque gostam, mas pela razão que o forró é o que dá dinheiro de
fato em nossa região, e dessa forma empresários só investem nessa modalidade
musical quando há o retorno, ou seja, o lucro.
Porém os músicos independentes tem
certa autonomia, pois escapam das garras dos majors, isso é claro, se falando
em Brasil somente os artista dos anos 70. Os músicos independentes pós-década
de 70 “traíram o movimento independente” quando se assemelharam a qualidade da
música mercadológica e quando se deixaram virar pop. Difícil manter ideologias
quando o que manda no mundo do entretenimento é o lucro, o capitalismo é quem
dita às regras.
Nos anos 80 aconteceu a ascensão de
alguns músicos independentes baianos que inseriam um novo estilo musical no
mercado, que contagiou a nação, o axé music. O axé baiano, o reggae de São Luís,
o tecnobrega de Belém, foram de certa forma elaborando um tipo de identidade de
música regional para não dizer nacional, e foi criando-se uma integração
mercadológica da produção das grandes gravadoras com as de tipo independente,
já não se sabendo definir quem é quem de fato.
No estado do Ceará, essa questão de
identidade musical, foi ganhando força em 1990 com o advento do forró
eletrônico, precisamente com a banda Mastruz com Leite. Esse feito deve-se a um
projeto do empresário Emanoel Gurgel que soube usar seu capital financeiro com
a criação da Somzoom Sat principal meio de difusão das trilhas de forró nos
espaços radiofônicos. Mastruz com Leite abriu as portas para as inúmeras bandas
de forró que temos atualmente, desde as que inserem músicas com letras de baixo
calão, até mesmo os de sobejos intercalados com sucessos de outros estilos do
mesmo nível comercial (sertanejo, axé, funk).
A fórmula de sucesso das bandas de
forró cearense é uma mistura de erotismo, humor e letras ínfimas em seu
repertório de shows. As bandas de forró não se preocupam com a questão da
pirataria de CD’s, pois suas maiores fontes de renda vêm dos shows e não na
venda dos álbuns. As bandas de forró incorporaram bem o ideário capitalista de visarem
sempre o lucro em demanda de suas mercadorias (álbuns) que contraria até mesmo
a lógica dos nomes de CD’s uma vez que eles somam em volumes que já esgotaram o
senso audível e inteligível.
De
volume 1 ao infinito(∞) o que importa para os empresários dessas bandas não é
intelectualizar as massas com canções inteligíveis, mas mantê-las presas na
inércia de pensamentos vulgares para que nunca questionem questões como a
propriedade privada etc. Uma sociedade néscia remotamente poderia se rebelar com
prisões ideológicas tão marcantes como a música que mexe com a alma do ser, por
isso não se crítica como deveria alguns estilos musicais, pois são agentes
capitalistas de manutenção e perpetuação do sistema.