O Fortalecimento do Poder Real: Centralização Política e Alianças Estratégicas na Europa Medieval

    

Poder Real

A fragmentação política e econômica dos reinos em feudos dificultava a expansão dos negócios. Os comerciantes enfrentavam dificuldades para calcular o preço de seus produtos, uma vez que os senhores feudais utilizavam moedas, pesos e medidas diferentes nos lugares pelos quais passavam com suas mercadorias. Além disso, não havia a quem se queixar contra os abusos praticados por esses senhores.

    Diante dessa situação, os burgueses buscaram se aproximar dos reis em busca de ajuda. Alguns monarcas, interessados em ter acesso ao dinheiro da burguesia, passaram a adotar medidas em favor desse grupo social. Em algumas regiões, os próprios senhores feudais recorriam ao rei em busca de apoio militar para conter rebeliões camponesas em seus feudos ou para intermediar disputas com outros senhores. Ao mesmo tempo, nas camadas mais baixas da sociedade, muitas pessoas começaram a ver no soberano um defensor dos pobres contra a opressão dos senhores feudais.

    Dessa forma, o rei deixou pouco a pouco de ser apenas mais um senhor feudal entre muitos. Na qualidade de árbitro de disputas e protetor de certos grupos sociais, seu poder tornou-se cada vez maior. Essa mudança foi acompanhada de alterações importantes no sistema de lealdades. As pessoas que, no auge do feudalismo, deviam lealdade principalmente ao senhor feudal ao qual estavam ligadas, voltavam-se agora para o rei, que passava a ser o principal destinatário de sua lealdade.

    A partir do século XI, de forma lenta e gradual, os monarcas submeteram à sua autoridade os poderes locais, centralizaram o comando do exército, estabeleceram fronteiras para seus territórios e colocaram os habitantes dessas regiões sob seu poder. Assim surgiram as monarquias nacionais europeias, também chamadas por alguns historiadores de monarquias feudais. A seguir, veremos como esse processo se manifestou em algumas regiões da Europa.


    Na Inglaterra, em 1066, o país foi invadido por um exército normando comandado por Guilherme, o Conquistador, duque da Normandia. Após vencer os ingleses, Guilherme impôs sua autoridade sobre o país. Ele obrigou os nobres ingleses a prestarem juramento de vassalagem e aprimorou o sistema de cobrança de impostos. Após sua morte, o fortalecimento do poder real iniciado por ele continuou, principalmente no reinado de Henrique II, que adotou um conjunto de leis a ser aplicado em toda a Inglaterra, conhecido como Common Law, enfraquecendo ainda mais a nobreza.

    Na Inglaterra, os senhores feudais reagiram contra a política centralizadora do rei. Sua primeira grande vitória ocorreu quando o rei concordou em atender às exigências de seus adversários, contidas em um documento que ficou conhecido como Carta Magna. Embrião das futuras garantias gerais do povo inglês, a Carta Magna tinha por objetivo assegurar os direitos dos grupos sociais mais ricos, estabelecendo limites para o poder real. Ela impedia o rei, por exemplo, de aumentar impostos e criar leis sem a aprovação do Grande Conselho, assembleia formada por representantes da nobreza e do alto clero, e assegurava proteção contra arbitrariedades do poder monárquico. No século XIII, o Grande Conselho passou a ser chamado de Parlamento, dividido em duas Câmaras: a dos Lordes, formada por nobres e clérigos, e a dos Comuns, composta por burgueses e cavaleiros.

    Na França, a unificação dos diversos feudos em um único Estado começou por volta de 987, quando a dinastia dos capetíngios chegou ao poder. A partir do século XI, atendendo às demandas da burguesia, os reis capetíngios garantiram a segurança das estradas e restauraram a figura jurídica da salvaguarda, que colocava as cidades sob a proteção real. Essas medidas contribuíram para a expansão do comércio e ajudaram a elevar o prestígio do rei junto à população. Um dos capetíngios que mais contribuíram para esse processo de centralização política foi Filipe II, que convidou representantes da burguesia para trabalhar em seu governo e delegou a agentes administrativos, os bailios, a tarefa de cobrar impostos, fiscalizar o comércio e intermediar disputas entre senhores feudais.

    Na Espanha, a formação do Estado moderno ocorreu por meio da reconquista dos territórios ocupados pelos muçulmanos. Após a invasão muçulmana em 711, os cristãos refugiados nas montanhas das Astúrias deram início a ações de resistência. A ofensiva contra os muçulmanos se tornou sistemática, e pouco a pouco os centros da cultura árabe foram caindo nas mãos dos cristãos. À medida que os muçulmanos eram expulsos, os reinos cristãos expandiam seus territórios, levando à formação de dois Estados independentes: Portugal e Espanha.

    A Guerra dos Cem Anos foi um conflito entre a Inglaterra e a França que ocorreu entre 1337 e 1453. Entre os fatores que desencadearam essa guerra estão as disputas entre dinastias pelo controle da coroa da França e o desejo da Inglaterra de dominar a região de Flandres, produtora de tecidos e sob controle francês. Durante o conflito, os dois reinos alternaram períodos de vitórias e derrotas, mas a França acabou expulsando os ingleses de seu território e consolidando a monarquia. Um dos pontos de apoio dessa consolidação foi a figura de Joana d'Arc, que injetou novo ânimo no exército francês e se tornou uma heroína do povo francês.

    Em Portugal, o processo de centralização política foi impulsionado pela dinastia de Avis. Ao assumir o trono, dom João I favoreceu a burguesia e criou as condições necessárias para que Portugal se destacasse nas áreas tecnológica e militar. Isso permitiu que o país se lançasse ao mar em busca de novos territórios.

    Na Espanha, a unificação dos reinos de Aragão e Castela, por meio do casamento entre Fernando e Isabel, foi o primeiro passo para a formação da Espanha moderna. Em seguida, os reis católicos firmaram uma aliança com a Igreja para expulsar muçulmanos e judeus do país. Essa aliança resultou na criação do Tribunal do Santo Ofício, também conhecido como Inquisição, que promoveu um período de intolerância e perseguições religiosas.

    Assim, o fortalecimento do poder monárquico na Europa ocorreu por meio da centralização política, da busca por apoio da burguesia e da aliança com a Igreja. Essas transformações levaram à formação das monarquias nacionais e ao enfraquecimento dos senhores feudais.