A TEORIA DO HABITUS DE PIERRE BOURDIEU




      Por Hernâni Oliveira       

    A noção de habitus, segundo Pierre Bourdieu, em suma, é um termo mediador que rompe com a dualidade do Senso comum entre um indivíduo e a sociedade, desse modo, na maneira como a sociedade se torna depositada nas pessoas sob treinamento do sentir, pensar, agir e interagir, ou seja, o comportamento posto ao meio social existente que é forjado em instituições tradicionais como família e escola que criam e mantem o habitus.
            Esse habitus é toda carga de cultura que uma pessoa apreende no decorrer dos anos de sua existência. O habitus também é o encaixamento do comportamento “padrão” que o âmbito social demonstre adequado. O indivíduo se adapta e realiza tarefas das mais diferenciadas funções, isso graças à transferência analógica de esquemas adquiridos em uma época anterior.
            O habitus pode ser tanto de princípio de socialização ou individualização. Quando de socialização, são aquelas culturas apreendidas em campos sociais partilhados por condições e condicionamentos sociais similares (ex.: habitus feminino, habitus nacional, habitus religioso). Já a individualização, é quando se entende no caráter único e individual do sujeito, uma vez que esse tem uma trajetória única e de compreensão do mundo formulado por um sistema de combinação de esquema muito diversificado.
ASPECTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO EM PIERRE BOURDIEU
            Na obra “Escrituras em Educação”, o autor Pierre Bourdieu, faz uma análise sobre as desigualdades escolares fundamentadas nas desigualdades sociais e ainda apresenta uma desmitificação dos talentos ou dons naturais. Nessa obra ele busca fazer uma análise buscando aspectos da sociologia educacional para compreender os mecanismos que envolvem o capital adquirido ou readquirido por uma mesma sociedade.
            Segundo Bourdieu, a moeda de troca é o acúmulo de capital intelectual, assim como o capital cultural é caracterizado por uma infinidade de valores sociais, que vem através da união dos conhecimentos das mais diversas interações humanas que diferenciam dos rendimentos acadêmicos frente à escola. Os relacionamentos tidos como positivos, que envolve a qualidade linguística e o capital cultural são adquiridos no amago familiar. A aprendizagem difundida pelos membros de uma família seja por pensamentos ou ações intelectuais é predominantemente alavancado por classes sociais cultas, nesse sentido o conhecimento se restringe a compactação cultural de uma classe dominante, que deixam seus herdeiros intelectuais.
            O autor desvenda os mitos sobre o dom ou talento natural, na parte sobre os três estados do capital cultural, sob três tipos de formas: estado incorporado (onde a assimilação e perpetuação do capital cultural levam algum tempo, e é um processo individual), estado objetivado (quando se encontra o capital cultural provindo de aquisição de bens culturais, por exemplo, livros), e por fim o estado institucionalizado (o qual ocorre quando há concretização na propriedade cultural por meio da aquisição dos diplomas).
            A ideia do habitus, também é trabalhada nessa obra através do texto “Futuro de classe e causalidade do provável”, trabalhado sendo um sistema de disposições duráveis posta no seio familiar para produção e reprodução de capitais sejam eles sociais, culturais ou econômicos, para manutenção ou melhoramento das relações sociais no sistema de classes. De acordo com o momento uma família pode fazer um revezamento na estratégia de capital conforme a necessidade de capitais (cultural, social ou econômico).
            Para Bourdieu as relações que envolvem o sistema de ensino e o de produção trabalhista, que estão envolvidos na qualificação do indivíduo são moedas do mercado de trabalho engajados no sistema educacional. De acordo com Bourdieu, existem estratégias de reprodução e obtenção de capital escolar que é adquirido pelo indivíduo por meio do almejamento de cursos e graduações que são muito disputados. Bourdieu defende que desigualdades sociais interferem de fato na formação do capital intelectual das classes menos abastadas, essa desigualdade escolar reflete na distribuição de vagas de cursos superiores em que os filhos dos pobres ficam disputando ou preenchendo vagas de cursos considerados inferiores.
            Em suma o livro é de bastante valia para entendermos a complexidade das ideias que vagam pelo espaço intraescolar, nas dimensões do capital intelectual fundamentadas nas classes dominantes.